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segunda-feira, 2 de outubro de 2006

Quem foi, a traços muito largos, Manuel de Brito Camacho?



O Patrono da nossa Escola e deste blogue, foi um líder de um partido de elites intelectuais e económicas. Senhor de um feitio ácido e verrinoso, Brito Camacho não era um político muito estimado no seu tempo. O seu sentido de humor é hoje lembrado como pilhéria pelas gentes da Planície. Assim, fácil se torna perceber a forma como deveria afastar muitos da sua proximidade.
Tal como aconteceu com o bem mais modesto e seu condiscípulo Fialho de Almeida, também ele alentejano, também ele um contestário, também ele médico e escritor, Brito Camacho não teve uma vida familiar feliz. A sua mulher -significativamente filha de um grande proprietário da região- morreu de parto da sua primeira e única filha. A menina sobreviveu pouco tempo à sua mãe… Há quem justifique o seu mau feitio com esta infelicidade. É possível que o tenha influenciado…
Brito Camacho, não era, ao contrário do que muitas vezes se diz um homem humilde. Era um indivíduo de uma grande austeridade, o que lhe valeu o epíteto de avaro, e foi assim que os caricaturistas da sua época o representaram.

A sua casa não era a mais rica de entre as casas de lavradores contemporâneas edificadas em Aljustrel. Não fora a lápide presidencial e este edifício passaria por uma qualquer casa remediada de um lavrador de algum, pouco, sucesso.




Pouco amado no seu tempo, foi esquecido no Estado Novo pelo seu ateísmo militante e pelo seu republicanismo.
Voltou a ser evocada a sua memória a seguir ao 25 de Abril. Nos primeiros tempos da Revolução era frequentemente citado e lembrado em comícios e manifestações políticas.
O estudo mais atento dos seus escritos cedo se revelou difícil de conciliar com alguns ideais mais libertários então proclamados. Brito Camacho, apesar de ter acedido à promulgação da Lei da Greve que colocou grande parte da burguesia lusa de candeias às avessas com a República, era um homem que não renegava o seu estatuto social nem as suas origens enquanto representante de todos os terratenentes do Alentejo. Em grande medida representava os interesses desta classe junto do poder central. A sua acção no desenvolvimento do Crédito Agrícola no nosso país tinha mais que ver com o fomento de uma política cerealífera que o Estado Novo veio a desenvolver com resultados perniciosos, do que com uma preocupação pelo desenvolvimento económico de pequenos e médios agricultores. Estes continuaram a proletarizar-se, a sair do Alentejo e a ter muita dificuldade no acesso ao crédito bancário.
Assim foram as coisas… em datas:

1862 - Nasce no Monte das Mesas no dia 12 de Fevereiro de 1912, filho de abastados lavradores.

Frequentou o Liceu de Beja e a Escola Politécnica onde ficou à guarda de um seu tio. (Já aqui relatamos e citámos excertos desta sua passagem fugaz por Beja)

Em 1884 formou-se em Medicina, na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Formado, encontramo-lo a exercer no Torrão

1891 a 1893 - É cirurgião-ajudante nas unidades militares de Tancos e Torres Novas. Daí o posto militar de coronel a que acedeu.
1893- Candidatou-se a Deputado nas Eleições de 1893 e publicou então, no periódico bejense "Nove de Junho", vários artigos de crítica às instituições monárquicas pelo que, após as eleições, foi suspenso de actividade por um ano e transferido para a 2ª Divisão Militar de Viseu.
1893- Foi suspenso de actividade e, pouco depois, transferido para os Açores, por um ano, como penalização pela defesa dos ideais republicanos.
1894- Encontra-se ao serviço na 2ª Divisão Militar de Viseu.

Abril de 1894- Fundou com Ricardo Pais Gomes e Ribeiro de Sousa o jornal de crítica "O Intransigente" Este jornal encerrou em Junho de 1895-

1896 /1897- Desenvolve em Évora grande acção política, tendo colaborado em jornais republicanos. Por esta altura realizou conferências e participou em inúmeros comícios.

1902- Prepara a sua tese em Medicina, na Universidade de Paris.
1903- .Promove uma Conferência intitulada "A Coroa substituída pelo chapéu de côco", a partir da qual abandonou definitivamente a prática médica dedicando-se inteiramente ao jornalismo político.

1904- Concorre, apesar do citado acima, ao lugar de professor da Escola Médica de Lisboa no ano seguinte.

1906- Funda com alguns amigos um dos mais importantes periódicos republicanos do início do século, o jornal "A Lucta".
1908- É deputado pela oposição republicana desde 1908 participou activamente no amplo movimento de opinião pública que levou ao derrube da monarquia.

5 de Outubro de 1910 – É proclamada a República.
- Fruto da acção política e dos conhecimentos entretanto obtidos é mediador na formação do governo -que vem a integrar- o ‘Executivo Provisório da República’.

23 de Novembro de 1910- toma posse da pasta do Ministério do Fomento.

Dezembro de 1910- Está na origem da ACAP. É fundada a Associação de Classe Industrial de Vehículos e Artes Correlativas.

Está na origem do Instituto Superior Técnico ao convidar o professor Bensaúde, para Director deste futuro Instituto que resultaria da extinção do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa e sua divisão no Instituto Superior Técnico e no Instituto Superior de Comércio. Foram cinco os cursos de Engenharia inicialmente leccionados no IST — Minas, Civil, Mecânica, Electrotécnica e Químico-Industrial. Os estudos iniciavam-se com uma estrutura de carácter geral, que se completava com três anos de especialidade.

20 de Abril de 1911- Subscreve, como membro do governo a Lei da Separação da Igreja do Estado de 20 de Abril de 1911. Esta lei é ainda subscrita pelos seguintes nomes: Joaquim Teófilo Braga, António José de Almeida, Afonso Costa, José Relvas, António Xavier Correia Barreto, Amaro de Azevedo Gomes e Bernardino Machado.

Setembro de 1911- volta às responsabilidades governamentais no gabinete resultante das primeiras eleições republicanas.

1912- Regressa à direcção de "A Lucta".
-É um dos protagonistas da cisão do Partido Republicano Português (PRP), que originou os três principais agrupamentos políticos do novo regime: Afonso Costa, com o Partido Democrático, António José de Almeida, com o Partido Evolucionista e Brito Camacho, com o Partido da União Republicana.
-A fim de preservar a estabilidade republicana, desenvolve a sua acção jornalística e política contra os "Democráticos" e o risco da sua hegemonia.

1918- Com a eleição de António José de Almeida para Presidente da República e a fusão dos Partidos Evolucionista e Unionista começa a desligar-se da actividade política.

1920- Recusa o convite de formar governo.

1921- aceita o cargo de Alto Comissário em Moçambique, de onde regressou em 1922. ( Exerce oficialmente esse cargo de Março de 1921 a Setembro de 1923).



Ex Av. Brito Camacho em Maputo (Moçambique)


1925- Como Deputado manifesta aos seus eleitores o desejo de abandonar a vida política, passando a promover conferências e a dissertar sobre temas inseridos na defesa da estabilidade política e dos ideais da democracia


Faleceu no dia 19 de Setembro de 1934, às 6 horas e 30 minutos da manhã.
O seu trabalho... em livros:
Impressões de Viagem (1902), Os Amores de Latino Coelho (1923), A Caminho de África (1923), Quadros Alentejanos (1925), Moçambique, Problemas Coloniais (1926), Gente Rústica (1927), Gente Vária (1928), Cenas da Vida (1929), Gente Bóer (1930), Por Cerros e Vales (1931), A Linda Emília (1932) e Política Colonial (1936).